quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A bizarra política de precificação dos ingressos - como chegamos aos 350 reais?

Não é de hoje que chama atenção a precificação dos ingressos de jogos de futebol no Brasil. Encontrar a lógica na escolha de quanto custará cada setor do estádio é quase impossível. Os preços, extremamente voláteis, flutuam, mas não seguindo regras de oferta e demanda. Os valores parecem ser chutados ao gosto do patrão, e o que menos parece importar é ter o estádio cheio e, por consequência, ter também uma alta renda de bilheteria constante.

Fato é que fui impelido a voltar a escrever depois de um longo período longe do blog, porque vejo beirar a insanidade um clube vender ingressos a 350 reais nas laterais do campo em qualquer jogo. Mas ver isto sendo cobrado em pleno Campeonato Paulista, para jogos como Palmeiras x Audax chega a ser surreal. Para piorar, a partir de agora o ingresso mais barato, na meia entrada, sai por 50 reais.

Isto é uma estratégia para que? Dizer que é para impulsionar o Avanti é manter a falácia, pois o setor Gol Norte, que tem 100% de desconto no plano de 69 reais é minúsculo para a demanda, e poucos serão capazes de arcar com o custo de 140 reais por mês para ter 100% de desconto no anel superior.

O Palmeiras, como todos os times brasileiros com novas arenas, é mais um que está optando por manter as cadeiras das laterais, que são o setor de maior evidência do estádio, vazias, porque acredita que arquibancada funciona como uma “pista premium” de um show. Você paga o triplo ou o quádruplo do valor do ingresso normal, porque tem a regalia de estar perto do palco/campo. Acontece que qualquer um que vai ao estádio sabe que um jogo de futebol não é um show, porque o melhor no futebol não é ter UMA oportunidade de estar perto do palco, mas sim poder estar lá no máximo de jogos que puder, empurrando o time o ano todo.

Na prática estes preços já se mostraram um fracasso completo, a ponto de até mesmo a final da Copa do Brasil do ano passado, num clássico regional entre Cruzeiro x Atlético-MG, ficar com estes setores quase vazios! Que me desculpem os pseudo-marketeiros que tem pensado a política de preços dos estádios, mas qualquer um com 2 de QI já percebeu que se este ingresso custasse 10% a 20% a mais que o ingresso mais barato, teríamos casa cheia e renda muito maior em todos os jogos. Em poucas palavras, trata-se de uma precificação suicida, que extermina o melhor setor do estádio, na esperança de que algum dia o torcedor deixe de perceber quão absurdo é pagar 400% a mais para ficar naqueles lugares.

No caso do Palmeiras, a torcida está sedenta por ir ao estádio, e com ingressos partindo de 15 reais, indo a um teto de 60 reais, teríamos estádio lotado o ano inteiro, e a renda seria a mesma que temos hoje, com as laterais, que correspondem a carca de 15 mil lugares, vazias.

Paulo Nobre, você quer a torcida jogando junto? Então não trate o torcedor como se o salário mínimo tivesse subido para 2 mil reais, não tente bater recordes de arrecadação às custas do abandono do torcedor. Casa cheia, com lucro de 1,5 milhão de reais por jogo vale muito mais do que casa pela metade com o mesmo lucro. Pense nisso.

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