domingo, 27 de abril de 2014

Muito mais do que a perda de um bom jogador



A perda de um jogador importante do time nunca é uma experiência amena para os torcedores. Mesmo que seja durante a pré-temporada, mesmo que peças de reposição já tenham sido contratadas, nós, torcedores, sempre sentimos aquele peso na consciência ao pensar “vai que o cara joga mais ainda lá!”.
Kardec está saindo, e a dor que deixa na torcida palmeirense é muito maior do que a saída planejada de um ídolo. Dói mais, mesmo Kardec não sendo ídolo de coisa nenhuma. Dói muito mais porque é a clássica ducha de água fria em todos nós. Estamos perdendo no meio do ano, no início de nosso principal campeonato, uma peça 100% fundamental no time que foi montado pelo Palmeiras para jogar a temporada de 2014. Para deixar mais claro o significado desta situação, o que quero dizer é que qualquer planejamento que se esperava que houvesse para este ano, se é que havia, foi abandonado. Perder neste momento uma peça tão essencial justamente para um rival local, que sequer está precisando reforçar seu ataque, demonstra enorme descaso de Nobre com o que acontecerá com o time na temporada. As finanças, em sua cabeça, estão acima da diferença entre disputar uma vaga na Libertadores ou o rebaixamento novamente. E estão acima de forma muito tosca também, porque com o tempo que estamos sem patrocínio já abrimos mão de ter ao menos “uns 15 milhões”, valor que patrocinadores máster pagam para os grandes times de SP há quase 10 anos. Nobre preferiu “batalhar” por algo mais próximo de 30 milhões, coisa que tão cedo não virá. Mesmo assim, teimoso, prefere ficar sem nada do que dar o braço a torcer.
Assim continuamos sem dinheiro, ficamos sem goleador novamente, e o cenário que vislumbrávamos no meio do Paulista, de precisar apenas de um parceiro de zaga confiável para Lúcio e um reserva para Kardec, inverteu-se. Fomos abatidos pela incompetência novamente, e agora, sem nenhuma perspectiva de contratações de quilate no mínimo aceitável, ficamos a torcer para que o cenário de 2012 não venha a se repetir, para que os jogadores que estão ai tenham garra para dar a volta por cima e nos manter num patamar digno.

Em tempo, é preciso dizer que São Paulo e Kardec fazem, se não um mau negócio, ao menos negócio duvidoso. Como mencionei anteriormente, Kardec não é ídolo no Palmeiras e também não é craque. É um bom jogador, de altos e baixos, que funciona quando o time está bem encaixado. Por isso teve uma boa fase no Vasco e depois caiu de produção, teve passagem apenas satisfatória no Santos (nada de encher os olhos), no Benfica nem conseguiu ser aproveitado, e no Palmeiras está abrindo mão de uma grande fase porque, com absoluta razão, sentiu que foi desprezado por nossos dirigentes. E foi mesmo. Pelo lado do São Paulo o negócio é duvidoso porque o time gastará tufos de dinheiro com um jogador que, reitero, não é craque, não vale todo esse dinheiro, não vale uma comissão de mais de 2 milhões só para seu empresário. Além de tudo nossos vizinhos de muro nem dinheiro para gastar tudo isso tem, pois há poucos dias pediram adiantamento de cotas de tv quase a perder de vista. Sua nova diretoria está assumindo um contrato de muito risco, por um jogador de uma posição em que nem carentes eles estão, apenas para agradar a torcida, penso eu.

Faço estas considerações não no intuito de amenizar a cagada que nossa diretoria fez. Trata-se de uma das maiores cagadas dos últimos tempos, maior do que a perda resignada de Barcos. Mas vejo como grande a probabilidade de Kardec ir para o São Paulo, não engrenar e voltar a procurar outro clube em que consiga reviver uma boa fase. Típica situação que acontece com jogadores de nível regular que não sabem aproveitar quando encaixam num time e ganham moral com sua torcida.

No mais, só posso dizer que escrevo este post como um desabafo de meu profundo desapontamento, com a sensação de ter sido traído na inocência de acreditar que nosso Palmeiras estava crescendo, de que bastava contratar mais um pouco, de que bastava vir um novo patrocinador para acomodar as coisas. Sinto-me traído, pois constatei o inverso. Vejo que o pensamento não era esse. Vi que não há pudor nem tato nas negociações que estão sendo feitas, e que esta diretoria não consegue nem ao menos apreciar a importância dos atletas que já possui, o que significa que tem muito menos para agora investir em muito mais para juntar os cacos.
Da parte de Kardec, só posso lamentar, pois duvido que tão cedo terá um momento tão bom na carreira, mas preciso dizer que definitivamente compreendo sua postura. Foi sim desprezado por Nobre e quis devolver na mesma moeda, pulando o muro para jogar em nosso rival e esfregando na cara a ineficiência do maldito contrato de produtividade, que no Brasil só serve para novos atletas, jamais para quem não tem que provar nada para ninguém.

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